A GOTA NO OCEANO
Depois de quatro horas na estrada, na parte norte de Papua Nova Guiné, finalmente chegamos à última estação no continente. No dia seguinte, após duas horas de condução difícil através de um terreno rugoso, graças a um Jeep de tracção nas quatro rodas - nós conseguimos chegar ao Rio Ramu.
Três canoas grandes nos esperavam numa pequena aldeia. As canoas eram esculpidas de troncos grossos e tinham motores de água conectados. Nós as carregamos com medicamentos e outras necessidades. Cada um de nós encontrou um lugar para se sentar nelas. Nós navegávamos contra a corrente, passando por pequenas aldeias localizadas ao longo das margens do rio. Em seguida, entramos na floresta tropical imensa e espessa. Árvores enormes e contorcidas recriam figuras engraçadas e variadas em ambos os lados das margens do rio. Na nossa imaginação, vimos girafas, elefantes, um homem usando um chapéu e muitas outras figuras.
Com o passar do tempo, o sol ficou mais quente. No meio do rio, de vez enquanto, passamos por pequenas ilhas onde os crocodilos gozavam de um banho de sol. Nós rezamos o terço junto. Estava ficando escuro, quando finalmente chegamos à primeira paragem, no pequeno posto médico, após remarmos por 10 horas as três canoas. Depois de uma rápida organização estávamos prontos para atender os doentes.
PEQUENA MULTIDÃO
Nós assistimos primeiro os doentes mais graves e depois os outros. Com uma enfermeira local, preparamos um plano para o dia seguinte. A visita de um médico é geralmente anunciada com uns dias de antecedência, por isso não é de admirar, que no dia seguinte, cedo pela manhã, uma grande multidão de pessoas doentes nos aguardavam. Sem qualquer outra demora, eu dediquei-me energeticamente. Logo depois eu descobri que alguns dos doentes tinham tuberculose avançada. Enquanto isso, eu fui fazendo algumas cirurgias. Quando é necessário a intervenção de uma cirurgia mais séria, o doente é enviado para o hospital em Madang, a cidade capital, mas é muito caro e só alguns têm condições para pagar.
É muito difícil para mim, como médico dizer a alguns doentes que eles estão gravemente doentes e que nada pode ser feito, porque é muito tarde. Eu sinto imenso pelo pai que chora ao trazer o seu filho que tem um tumor maligno no seu olho. O meu coração sangra quando eu vejo um menino de 12 anos, apoiando-se num pedaço de pau, porque a sua perna é mais curta por 15 cm (quatro inchas). Eu podia prolongar a sua perna, mas nós não temos os instrumentos adequados ou o equipamento ortopédico especializado.
POR MEIO DE FLORESTA TROPICAL, PÂNTANOS E RIACHOS
No final da tarde, estávamos novamente no nosso caminho rio acima. Levou-nos mais de quatro horas a viajar para chegar à nossa próxima paragem. Nesta paragem, jovens nos aguardavam para nos ajudar a carregar as malas. Desta vez, a pé, por meio de uma floresta tropical espessa e com terreno pantanoso, atravessando pequenos riachos e rios, depois de algumas horas, chegamos finalmente à aldeia chamada Isovag. Aqui fomos recebidos com uma recepção de boas vindas muito festiva. As pessoas cantavam, dançavam, nos ofereceram presentes e flores. Um por um, eles se aproximaram para um aperto de mão. Após as boas vindas, podemos esquecer facilmente as dificuldades da caminhada, mesmo na chuva.
Logo após eu ter lavado as mãos num fluxo de água fria, eu estava pronto para receber os doentes, sentados numa cabana de bambu que servia como um posto médico do governo.
Aqui, também, uma enfermeira local me assistia. Uma vez que não havia mobília na cabana, os doentes estavam deitados no chão. Nos países tropicais anoitece muito depressa, então tivemos que parar abruptamente o nosso trabalho para o dia seguinte. Os restantes doentes iriam esperar até à manhã seguinte.
Enquanto eu cuidava das pessoas doentes, a aldeia inteira estava ocupada preparando uma refeição para nós – batata-doce, folhas cozidas, bananas e uma lata de peixe. Durante a refeição os líderes expuseram os seus problemas; tal conversa geralmente durava muito tempo. Depois disso, espalhamos as redes de mosquitos e adormecemos imediatamente. Cedo na manhã seguinte, fomos acordados pelo cantar dos galos. Enquanto o nosso padre escutava confissões, celebrava a Santa Missa, organizava os programas catequéticos com os líderes da igreja, eu assistia ao resto dos doentes com a enfermeira local.
Eu nunca esquecerei um velhinho com tuberculose avançada trazido pelos seus filhos numa maca de bambu de uma aldeia vizinha. Eu dei-lhe um medicamento e deixei-o ao cuidado da enfermeira local. Eu espero que ele tenha sobrevivido. Depois do pequeno-almoço, saímos para regressar para casa.
A GOTA NO OCEANO DAS NECESSIDADES
O que nós fizemos? Duzentos doentes, oito pequenas cirurgias, sete casos de tuberculose avançada, doentes que foram provavelmente salvos da morte. Na verdade, é muito difícil de assumir que este projecto seja só uma gota no oceano daquilo que é necessário fazer. Em muitos casos, não podemos ajudar por falta de instrumentos ou de equipamento ortopédico especializado, por isso muitos jovens permanecem aleijados e sem ajuda.
Do ponto de vista espiritual, as nossas visitas dão sempre às pessoas esperança e o sentimento de que os missionários se preocupam com eles e tentam ajudá-los, tanto quanto possivel, quando têm os meios.
As necessidades médicas nas aldeias do mato tropical são grandes. Os habitantes raramente recebem tratamento médico por causa da distância geográfica. Nessas aldeias que acabamos de visitar, eles recordam que a última visita foi à dez anos atrás.
O irmão Jerzy Kuzma é Verbita e um medico servindo como missionário em Papua Nova Guiné.